segunda-feira, 28 de junho de 2010

Último Ato

Voltar ao velho teatro não foi assim tão difícil.
Entrou pela porta da frente, passeou por cadeiras marcadas de um plateia longínqua, atravessou empoeiradas cortinas e as abriu puxando cordas corroídas de tempo. Entrou nas coxias alinhando-as para que seus passos não vazassem para a plateia vazia. No alto da cabine de luz, alguém lhe piscou os olhos e os holofotes.
Da beira do palco a luz lhe cegava e as cadeiras eram preenchidas de pessoas que vinham de todas as entradas do prédio. Logo as últimas fileiras foram preenchidas.
Continuava à beira do palco.
Sem ação.
E, num sussurro de lembrança, lhe brotaram falas de esquecidos textos de abandonadas peças.
Sentiu o calor da luz frontal. De repente suas mãos não tremiam frias e a poeira desacomodou-se formando uma cortina de fumaça, num etéreo de recordação.
Dizia as falas lembradas e citava esquecidos lugares e ex-eternos-atores, co-autores de sua vida esquecida.
A plateia toda estava lá para ver suas lágrimas marcarem o empoeirado palco.
E quando disse a última fala , levantou as mãos, como quem abraça o mundo, fechou os olhos e abaixou a cabeça em agradecimento.
Os aplausos não vieram
A poeira ainda forrava todos os lugares, as cadeiras permanecim marcadas e vazias. E as únicas mudanças, desde sua chegada, foram as cortinas agora abertas, sua presença num palco antes vazio e suas lágrimas que ainda deixavam marcas em meio à poeira.
Levantou a cabeça devagar para a cabine de luz e viu seus próprios olhos sorrindo...
E num derradeiro piscar, apagam-se os holofotes.

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