segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Xadrez

Às vezes, a rainha negra, acaba por encontrar-se envolvida em problemas de peças brancas, dos quais jamais imaginou participar...
Percebe que ela coloca seu próprio rei em xeque
E então corre para o lado oposto do tabuleiro, desejando ser uma torre branca, sem desvios pelo caminho.
Deseja encontrar alguma peça adversária que cesse seu pensar.
Que permita que ela simplesmente se deite ao lado do tabuleiro e não precise decidir o movimento seguinte.
Deseja não ter tido tantas opções de movimentos
Deseja não ter movimento nenhum.
Ela vê o preto no branco, apenas enxerga um cinza gritante
E simplesmente já não consegue mover
Agora está nas mãos da rainha
Ela percebe: É matar, ou morrer

[CONTINUA...ATÉ QUE ALGUÉM DECLARE XEQUE e  MATE]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Lord

[DE PARTES DE CONVERSAS DE PARTES DA GENTE]

-Eu to é querendo sair correndo e gritando

-Sabe que somos dois.
Apesar de no momento eu não estar com essa vontade.
Ela bate a noite.
Antes de dormir...

-A minha bate e não sai
Acho que não vai embora enquanto eu não abrir a porta, deixar ela entrar...
E sair.

-Beco sem saída?

-Todo beco tem saída
O problema é que quase sempre...
É a entrada

-Ou seja, enfrentar o que te colocou ali.

 -Pois é
Mas eu sou tão covarde...
Que é capaz de aprender a voar...

-O que te colocou ai?

-Sabe oq é o pior de tudo?
Fui eu.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Paralelas

Um e outro andavam lado a lado
Percorriam caminhos paralelos e quase sempre se davam as mãos
Às vezes olhavam para lados opostos, enxergando a paisagem pela qual passavam sozinhos
E, ainda que o outro tentasse enxergá-la, era parcialmente coberta pelo corpo do um
A paisagem de um ia se modificando, tornando a reta vacilante
Às vezes pontilhada de sonhos, realidade, felicidades e angústias
E o outro via apenas gotas
E sentia vontade de abrir o guarda chuva
Mas só chovia nos olhos do um
O outro decidia tentar borrar-se em chuva alheia
Que o um decidia guardar para si
Seguiriam sempre em vidas paralelas
Que caminham lado a lado e nunca se cruzam...


[Certa vez alguém disse que
Retas são pedaços de círculos gigantes...
Talvez Paralelas, sejam pedaços de condição...
Talvez o agora seja pedaço de antes...
E talvez o futuro seja pedaço intersecção]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Do Voo III

[Da peça]

-Para voar basta ter asas
-Esse é o problema...
-Voar?
-Ter asas. Eu não tenho asas
-É claro que tem... Só nunca aprendeu a usá-las
-E você vai me ensinar?
-Não
-Não?
-Ninguém pode lhe  ensinar a usar suas próprias asas, você é quem precisa parar de podá-las, precisa soltar as amarras nas quais as prendeu por tanto tempo. E eu só posso te ajudar a desatar os nós.
-Como?

Ele olha para o céu

-O que você vê?
-Nuvens
-De que tipo?
-Cúmulos e nimbos, eu acho.
-Eu vejo do tipo animal.
-Animal?
-É. Veja: um cachorrinho ali, e ali um coelhinho de longas orelhas felpudas.
-Coelhinho?
-É. Venha ver mais de perto.

Ele a leva pela mão.
As nuvens agora estão na altura de seus pés
Ele se abaixa acariciando uma nuvem

-E então?
-O que?
-Você fica brincando com nuvens e eu fico aqui olhando a loucura transbordar-lhe dos olhos, dos braços, das pernas...
-Das asas?
-Que asas? Você não tem asas!!!
-Claro que tenho.
-Quais?
-As da imaginação! Você precisa soltar as suas.
-Ah! Mas eu não tenho isso! E não quero mais tentar
-Quer ir embora?
-Quero...
-Vá!
-Mas...Então me ajuda a descer!!!
-Descer de onde?
-Do céu...
-Acha que estamos no céu?
-É claro que estamos no céu!

-[...]

-E ENTÃO?
-Então eu acho que já pode descer com suas próprias asas...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ana

 Inconscientemente cobria os olhos e, quando lhe perguntavam sobre as cores, dizia que só havia uma: escuridão.
 Aos poucos foi afastando os dedos que trazia sobre os olhos, e enxergou uma luz surgindo ao longe, as escalas de cinza no céu e a pureza branca das nuvens...
 Ela enxergava em preto e branco a tanto tempo, que quase não conseguiu ver as cores pastéis que timidamente surgiram quando finalmente libertou-se das amarras em que lhe prendiam...
 Um dia...
 Quando já havia se acostumado com as escalas de cinza e bege que iam surgindo, esbarrou numa palheta inteira de cores.
 A princípio cobriu os olhos novamente- as cores incomodavam o olhar acostumado a cor nenhuma- Mas a mesma intensidade que a assustava a atraía
 De repente já não se importava de lambuzar-se em cores de uma palheta alheia, que trazia um colorido, que ela jamais conseguiu imaginar no mundo antigo.
 E agora...
 O branco das nuvens que luziam no velho céu desbotado e sem cor, ganharam o contraste no azul de um novo olhar...