sexta-feira, 30 de julho de 2010

Asas de Carvão

 E lá estava ela, olhando novamente o sorriso da Lua por seus olhos fendidos.
 Sorria para a Lua que lhe respondia com o brilho mais intenso que jamais sonhou presenciar um dia.
 Todas as noites ela buscava o sorriso lunar e, em algumas semanas, ele simplesmente deixava de surgir. Mas ela sabia que ele estava lá, escondido por detrás de todo aquele fascinante brilho.
 O tempo passou e a Lua ficou cheia, cheia de brilhar para ela!
 Ela ficou fora de si, não havia mais nenhum motivo para seu próprio sorriso.
 -Iria procurar o sorriso lunar-
 Os deuses resolveram ajudá-la a chegar aos céus e lhe desenharam asas de carvão. Eram fantásticas, negras como sua pelagem e sumiam na escuridão da noite...
 Via-se apenas o brilho de seu olhar.
 Ela voava e o vento lhe lambia a face. O laço em seu pescoço esvoaçava.
 Ela sorria
-A Lua não retirbuía-
 Procurou por todo o céu, perguntou a cada um dos astros, pediu às estrelas cadentes... Mas o sosrriso havia simplesmente deixado de existir. Já estava desistindo, chateada em olhar para a Lua cheia.
 -CLARÃO-
 Uma luz que não vinha da Lua. Era azul e repentina. Um forte barulho veio em seguida.
 A tempestade chegou tão rápido quanto o som, àquela altura do céu.Suas asas se desfizeram na chuva.
 Ela caía.
 Sua queda aconteceu como nos filmes, em câmera lenta.-Ou eram seus pensamentos que estavam rápidos demais-
 Via o sorriso que a Lua lhe dera. Via imagens do que ela foi. Sentia o vento em suas costas, assobiando.Sentia o laço alcançando-lhe a face. Sentia cada uma das gostas de chuva.
 Toda sua vida se passou em sua mente e percebeu que tudo havia sido apenas uma preparação para o sorriso da Lua e os instantes perfeitos que passou observando-o.
 O chão se aproximava devagar, como predador que brinca com a presa.
 Fechou os olhos e, esperando que uma estrela cadente passasse ou que as horas fossem iguais aos minutos, desejou. Desejou que a Lua conseguisse seu sorriso de volta, mesmo que ela jamais pudesse vê-lo novamente. Desejou que a Lua pudesse brilhar como brilhara sempre. Desejou poder ver seu sorriso uma última vez..
 Abriu os olhos e viu o céu. Viu estrelas, viu plantas, viu as cinzas de suas asas.
 As estrelas pareciam sofrer sua perda.
 Seus olhos se encheram de lágrimas ao ver que a Lua não lhe sorrira.
 Ela morreria.

[FINAL 1]
 Seu corpo encontrou a terra molhada. O ar lhe faltou aos pulmões. Olhou para a Lua uma última vez.  Sentiu-se fracassada.
 Ela agora miaria eternamente na Lua.
 Havia encontrado o sorriso: Ele sempre estivera com ela mesma.

[FINAL 2]
 Seu corpo encontrou a terra molhada. O ar lhe faltou aos pulmões. Olhou para a Lua uma última vez.
 Seus olhos se fecharam devagar, tudo ficou branco. Ela viu o sorriso da Lua.
 O sorriso mais triste de todos. Mesmo a Lua sabia que ela não sobreviveria.
 Quando abriu os olhos novamente, percebeu que seu coração voltara ao ritmo normal, sua respiração ainda era ofegante, mas respirava.
 Pensou estar no céu.
 Foi quando alguém lhe disse que havia perdido uma de suas nove vidas...
 Havia ainda outras 8 infinitas vidas para miar para a Lua.
 E então ela percebeu:
 O sorriso da Lua sempre lhe pertenceu.

Tenho pensado em você

Tenho pensado tanto em você.
Meu travesseiro se encharca e eu gosto de não abrir o guarda-chuva, para sentir as gotas borrando meu rosto.
Eu tenho pensado em você enquanto os ponteiros dão voltas e mais voltas ao redor do relógio e tenho pensado, mesmo quando a pilha se acaba e eles param.
Tenho tentado ocupar minha cabeça para não te procurar a cada momento do dia, só pra ouvir sua voz a não me dizer nada importante, mas me fazendo ouvir tudo que realmente importa.
Eu tenho pensado em você enquanto tento não pensar.
E nos meus pensamentos nós nunca brigamos por eu dizer a coisa errada e nunca imagino uma reação que você nunca teve.
Então eu pego o telefone, disco seu número, e antes que comece a tocar, desisto.
Covarde.
Minha voz não resolveria as coisas dessa vez, mas ouvir a sua me faria sorrir.
Disco novamente e desisto mais uma vez.
Você não quer ouvir minha voz e, mesmo que quisesse o que eu diria?
"Tenho pensado em você."
E depois? Quando você risse e se perguntasse "e daí?"
Eu jogo o telefone longe e me concentro em borrar meus olhos de saudade até que o sono me vença.
Acordo confusa no meio da noite.
Você balançou a cabeça, me disse que precisávamos parar
Soltou minha mão e se afastou
Minha voz não saiu. Eu não disse.
Nem mesmo nos sonhos eu uso as palavras certas
Pelo menos eu não uso palavra alguma...
Eu demoro a dormir novamente, imaginando até que ponto você odeia a maneira que ajo, imaginando quanto de mim te faz sofrer.

Eu tenho pensado em você
E na verdade é essa a única coisa em que tenho pensado.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Penélope

Ele atravessou as portas de vidro com aquele sorriso dançando nos lábios.
Seus cabelos balançavam conforme andava no ritmo da música alta...
Procurando
Todas as garotas o olhavam, desejando. Mas ele continuava procurando.
As luzes piscavam, a música era alta e agitada.
Foi quando ele a viu.
Parou absorto quando viu como ela estava linda.
Charmosa como sempre.
Os cabelos caiam lisos pelas costas nuas. Seus olhos amendoados piscavam e seus longos cílios faziam-no sentir uma lufada de ar que ironicamente lhe tirava o fôlego.
Ela girava pela pista de dança, sorrindo nas mãos de outro.
A música parou.
Ela abraçou seu parceiro de dança com aquele sorriso avassalador.
O cantor falou algumas palavras que ele não entendeu. Estava absorto a todo o resto, só conseguia enxergar o universo em torno dela.
Ela começou a andar em direção ao palco, subiu as escadas com um sorriso tímido.
O cantor começou a tocar uma música suave no violão.
Todas as pessoas olhavam para a beleza dela. As mulheres a invejavam.
Ele a desejava com saudades.
Ela balançava o corpo no ritmo em que as cordas do violão eram acariciadas e vê-la mais próxima que há muito tempo, acariciava sua alma.
Foi quando o cantor a olhou nos olhos sorrindo, ela balançou a cabeça jogando os cabelos para trás e começou a cantar.
O mundo inteiro parou.
Seus pés inconscientmente o levavam para mais perto do palco, enquanto a voz angelical, com que sonhou durante tanto tempo, embalava seu coração num ritmo frenético.
Ele queria dançar ao som daquela voz, sentindo o calor do corpo dela no seu.
Não conseguia parar de sorrir... E deve ter sido isso que fez com que ela olhasse em sua direção.
Ela o viu na multidão.
Quando seus olhos se encontraram ela cantava "Penso em você" e os lábios dele acompanharam os lábios dela, como há muito não faziam.
Ela sorriu aquele sorriso envergonhado que só ele a fazia dar, sentido as voltas que o coração dava em seu peito.
Ele começou a subir as escadas do palco, sem perceber, cantando com os olhos nos dela.
A música terminou. Logo outra começou.
E eles não ouviram.
Ele sorriu passando a mão nos cabelos.
Ela sentiu que suas pernas a desobedeceriam se tentasse fazer algo complicado como...andar.
O tempo parecia parado.
Ele se aproximou rápido demais para os que observavam e devagar demais para ela.
Ele a abraçou como se estivesse esperando por isso toda a sua vida.
Seus corpos dançavam no ritmo de seus corações.
Depois de um longo tempo ela o olha nos olhos. Sua expressão inconformada entre indignação e curiosidade.
-O que você...
-Não fala nada, só...
-...
-Canta pra mim?

domingo, 25 de julho de 2010

Daniela II

[FRENTE AO ESPELHO]
-Você não sabe o que fez? Você me fez imaginar que estava tudo perdido e que havia sido tudo em vão. Que jamais seríamos como éramos antes. Veja, eu passei dias... Meses sofrendo por algo que eu achei que lhe havia dito e pela maneira como achei que havia te ferido. Você me feriu também, me machucou também. Mas... Eu não consigo viver sem você, sem esse seu sorriso. Eu simplesmente PRECISO de você. Dessa vez eu vou agir do jeito certo, mesmo com todas aquelas suas crises de ciúme...Porque eu sei que você gosta de mim. Eu sei que... Eu sei que é real. E o que eu sinto também é.

[FRENTE A ELE]
-Você não sabe o que fez?...Nem eu...Na verdade você não fez nada e... Bom... A gente se vê!

sábado, 24 de julho de 2010

Daniela

Estava tudo bem.
Ela já havia superado. Seus olhos não deixavam mais as lágrimas caírem e as memórias não doíam tanto quando sua mente insistia em passá-las como num filme.
Então aconteceu:
Lá estava ele.
Parado.
Exatamente no mesmo lugar onde se haviam visto pela primeira vez.
Suas pernas bambearam, o coração disparou e ela abriu seu melhor sorriso, ensaiado tantas vezes diante do espelho.
Ela tinha tanto a lhe dizer, tantas desculpas a dar, por agir simplesmente como uma mulher costuma agir.
-E se arrepender depois.-
Todas as coisas que ela queria dizer se dissiparam no caminho até a boca e, quando seus olhos se cruzaram...
Era como se ela já tivesse dito tudo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Do Voo II

-Como as coisas são diferentes vistas daqui.
-Diferentes como?
-São grandes, lentas e solitárias
-E como costumavam ser?
-Ah! Era tudo tão pequeno que cabiam milhares de coisas num só olhar, e tão grande que preenchiam todo o coração.
-E as cores? Aposto que não eram como as daqui
-Não...
-Rá!
-Algumas cores eu não tinha nem nome...Tão vibrantes. Acabam deixando as cores daqui desbotadas e sem graça.
-O que mais te incomoda aqui?
-A maneira como o tempo passa.
-Por que?
-É como se eu simplesmente passasse por ele. Lá eu costumo VIVER o tempo.
-Entendo.
-Sabe... Odeio andar.
-Quer parar?
-Não
-E então?
-É que é monótono, depois que se aprende a voar...

Da tristeza

-Está triste?
-Um pouco
-Entendo...
-Entende?
-Sim...

-Me explica?

Do suicídio

Abri devagar e muito pouco a pequena peça prateada
Calmamente, como quem dança, a fumaça tomou conta do cômodo todo
Eu permiti àquele calor escaldante tocar meu corpo seco, deixei a temperatura avermelhar minha pele.
Eu sentia dor, mas não me importava
Apenas uma nova dor abranda dores antigas
-É o que dizem-
O tempo passou em ritmo doloroso e lento
A fumaça inebriava meus sentidos e a leve tontura adocicada me permitia aliviar os pensamentos fúnebres
Mas a cena toda era funesta.
Era o suicídio, o velório e o enterro.
Fechei devagar a já conhecida peça prateada
A dor diminuiu, mas eu ainda podia sentir o calor
Os cabelos deixavam escorrer a água queimando o corpo
Enxuguei a última gota na pele quente
Atravessei a fumaça, ainda nua, deixando para trás toda a dor...
...Recém suicidada.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Me dê um coração de gelo



Talvez eu não devesse permitir a esse meu coração quente mandar até mesmo nas palavras que permito escapar pelos vãos dos dentes...
Talvez eu não devesse permitir que meus olhos chorassem a dor que o outro insiste em sentir...
Talvez eu devesse parar de justificar cada golfada aliviante que meus pulmões obrigam-me a inspirar quando falta-me o ar
Talvez você me devesse dizer o porquê de eu não conseguir encontrar a temperatura morna...
Sou fogo ou sou gelo.
Talvez eu precisasse encontrar fora de mim algo que temperasse o calor
Talvez você devesse me dar um novo coração.

Parece mais fácil encontrar algo que aqu[i]e[s]ça um coração de gelo...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Do que se guarda no coração

E lá estava ela naquele quarto claro de hospital, suas mãos pareciam não pertencer a si mesma, estavam brancas demais.
Sua visão era embaçada, mas podia ver o rosto que a fitava sereno, tentando fingir que não havia dor ou preocupação.
Ele segurou sua mão, fez seus dedos se encaixarem.
Ela tinha certeza de que deveria dizer o que estava pensando, sabia que tudo mudaria nas próximas horas. Mas simplesmente não conseguiu dizer as palavras certas:
-Me desculpe, não era isso que eu queria.
Ele ficou olhando em seus olhos marejados e quando abriu a boca para responder-lhe, os olhos dela começaram a se fechar devagar sob efeito do medicamento. Encostou os lábios nos cablos dela e disse baixinho:
-Não há de que se desculpar. Você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Eu queria ter te dito antes...
Quando ela abriu os olhos novamente, num novo quarto, claro demais para sua visão desajustada, sentiu o novo coração batendo em seu peito. Percebeu que tudo havia ocorrido como o planejado, mas ainda praguejava baixinho. Preferia ter aquele coração que morreria em pouco tempo e amá-lo pelo restante de seus dias, que precisar viver com os amores de outra pessoa.
Sua mãe levantou-se da poltrona, ao ouvir sua respiração mudando de ritmo e falou mais baixo do que se lembrava que sua mãe pudesse falar. Perguntava como a filha se sentia e outras coisas que não lhe faziam nenhum sentido. Ela interrompe, antes de poder prestar atenção ao que a mãe dizia:
-Mãe! Eu não quero vê-lo...Está bem?
A mãe concorda, confusa, decidindo por não contrariar a filha recém operada. A menina ainda divaga, imaginando que tudo o que sentia por ele, deveria ser tão ruim quanto seu velho coração e precisava ser retirado de seu peito. Seu coração dispara ao pensar nele, mas ela imagina que é apenas por não estar habituado a seu novo corpo.
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Ainda estava na sala de espera, imaginando porque ela estava demorando tanto para acordar. Ele tinha ficado no quarto todo esse tempo, mas a mãe da menina decidiu que ele precisava comer algo e ir para casa descansar. Ele não foi para casa, mas seu estômago estava mesmo implorando por alguma comida.
Depois de comer não lhe permitiram voltar e a mãe dela lhe disse que apenas a família poderia ficar no quarto. Ele não entendeu e acreditou que havia algo de muito estranho. Decidiu esperar, logo a mãe dela precisaria ir ao banheiro e ele a colocaria na parede.
Não demorou nada e ela saiu do quarto. Já estava indo em sua direção, quando decidiu esconder-se e entrar no quarto quando ninguém estivesse olhando.
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Sua mãe acabara de sair para buscar comida, prometendo não demorar. Seus pensamentos voavam para algum lugar dentro daquele imenso hospital, procurando pelos pensamentos dele.
A porta se abriu e ela pensou que a mãe havia mesmo sido rápida dessa vez.
Era ele.
Continuava incrivelmente bonito, mesmo tendo passado todas aquelas horas sem dormir. Seus cabelos estavam despenteados, exatamente como quando ela deixava seus dedos deslizarem entre os fios, deixando-o muito irritado, tentando colocá-los no lugar. Aquela lembrança a fez sorrir. Ele sorriu de volta.
-Ei!Você já está acordada. Como está se sentindo?
Percebeu que ele se preocupava e que não deveria lhe dar esperanças. Passou a ser rude, agindo como achou que seria o antigo dono daquele frio coração que jamais se derreteria àquele sorriso incrível à sua frente.
-Estou ótima! Pode ir embora. Não preciso mais de você.
Ele fica estático. Alguma coisa estava acontecendo. Sabia que sempre que ela era rude, algo a estava incomodando. Se aproximou, estendeu a mão para os cabelos dela e colocou aquela mecha insistente atrás de sua orelha. Ela estremeceu. Ele ficou preocupado.
-Está com frio?
-Não. Eu estou bem. Já disse que você pode ir embora...
Tocou-lhe o ombro direito. Da maneira como apenas ele poderia tocar, da maneira como só ela poderia sentir.
-Eu nunca irei embora. Sempre estarei com você.
Entrelaçou seus dedos nos dela e se aproximou para beijar sua testa. Foi somente quando o peito dele tocou o seu que ela percebeu o ritmo alucinado do novo coração e a maneira como rapidamente acompanhava o ritmo da já conhecida música que vinha do coração dele.Ela sorriu envergonhada.
-Eu achei que esse novo coração seria incapaz de sentir a mesma coisa por você. Eu achei que arrancando meu antigo coração, me estariam arrancando todo o sentimento que eu tenho por você, eu achei que...
-Achou que era apenas o seu coração que sentia algo?
-É...
-Eu jamais pensaria isso.
-Por que?
-Porque meu coração apenas bombeia tudo que eu sinto por você. Apenas leva para todo o corpo a felicidade de ter você por perto. É por isso que fica tão mais rápido quando você está comigo. Quando meu corpo percebe sua presença, cada célula exige a sensação que apenas seu toque me traz...
-Agora eu sei.
-Sabe?
-Sei. Bastou que seus dedos entrelaçassem os meus para que eu percebesse que você não é só o encaixe das minhas mãos ou do meu coração. Você é o encaixe do meu corpo todo, da minha alma. E sem você...Eu sou apenas metade de mim...

Regurgitar de palavras - Ou loquacidade

E então num arrancar quase desértico, as palavras começam a fluir de suas línguas bifurcadas...

-Mas o que quer dizer isso?

Não sei...
Acho que é isso que quer dizer, que eu dizia tudo, mas queria dizer nada
Ou na verdade eu nunca quis falar, apenas disse porque alguém ouvia...
Mas talvez ninguém ouvisse e eu apenas dizia por acreditar - ou por querer acreditar- que alguém um dia pudesse vir a ouvir, ou ler...
Mas na verdade eu nunca quis dizer nada com isso porque não havia nada a dizer
Eu só deixei meus pensamentos saírem da cabeça, confusos como quando estavam lá dentro
Talvez se você os lesse, confusos como são os seus próprios pensamentos quando ainda estão em sua mente você fosse capaz de entendê-los
Talvez não
Talvez eu não queira que ninguém entenda nada e apenas escreva para que eu possa tirar meus pensamentos de meu próprio pensar e possa lê-los como se eles jamais tivessem sido meus
Ou talvez eu só queira que alguém possa lê-los, e encontre em si, a resposta que jamais encontrarei em mim...

Do Encaixe

Ela está deitada sobre seu peito e entrelaça seus dedos nos dele
Fica buscando uma explicação para seus dedos se encaixarem tão perfeitamente, como uma pequena amostra da maneira como os seus corpos se encaixam

-No meio de tanta gente, há um mundo inteiro lá fora...

Ele a olha intrigado, mas permanece em silêncio

-Isso só acontece uma vez na vida! Algumas pessoas passam a vida inteira procurando o encaixe perfeito...E jamais encontram.

Ela está deitada sobre seu peito, que agora traz um rápido pulsar, e aperta com força os dedos dele ainda entrelaçados aos seus.
Naquele momento ela percebe que jamais os deverá soltar...

De quando uma pessoa é feita de duas...

-Por favor...
-Não!
-Por que não?
-Eu não posso deixar você fazer isso.
-Mas eu quero
-Seria triste demais. Você não entende?
-Por favor
-Mas isso não resolve as coisas. Os problemas continuarão aqui quando você voltar
-Eu sei, mas eu estarei pronta para eles quando estiver aqui novamente
-Ou não
-Mas você mesmo disse que eles continuarão aqui. Não faz diferença se eu for
-Para mim faz!
-Por favor
-Eu não posso te deixar fazer isso.
-Por que?
-Meu coração vai sofrer. Eu vou sofrer. O MUNDO TODO vai sofrer muito.
-Mas eu preciso.
-Por que?
-Eu preciso me ver longe das pessoas, eu preciso ficar só, com a melhor parte de mim mesma!
-Não...
-Por favor...
-Por favor... Não me faça permitir...
-Eu... preciso.

Ele fica desesperado com a ideia de ter que deixá-la ir, desejando estar junto dela onde quer que ela estivesse, pensando na voz dela dizendo que queria estar só, com a melhor parte dela mesma...
Ele concorda com a cabeça
Ela sorri
Ele solta sua mão
Ela se vira, confusa e assustada

-Você não vem?

Da Antártica I

Eles estão sentados nas conhecidas cadeiras amarelas

-Se você criasse asas para onde iria?
-Eu iria pra bem longe. Pra um lugar onde ninguém pudesse me encontrar.Pra a Antártica, talvez.
-E você iria me levar com você?
-Não.
-...

Eles se levantam. Caminham lado a lado em silêncio. Pouco antes de se separarem, ela segura a mão dele. Ele a abraça e diz tão baixo que só ela poderia ouvir

-Então eu espero que você nunca crie asas...

Ela deixa uma lágrima solitária escorrer pelo rosto, molhando o ombro direito dele. Ele jamais tomaria conhecimento.
Eles se afastam
Ela pensa baixinho

-Eu nunca iria pra Antártica sem você!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Da irritação

Nada mudou no mundo e pra você parece tudo tão completamente diferente:
As pessoas já não te olham daquele jeito doce, o céu não parece mais tão colorido, a Lua fecha o reconfortante sorriso, as flores murcham em escuras cores
-Ou foram seus olhos, que de repente se tornaram capazes de enxergar apenas por detrás de grossas lentes de rancor, dor e medo-
E então, nem mesmo os ponteiros, que pareciam tão certos, parecem querer andar no ritmo da sua música favorita.
A desesperança toma conta de todo o seu corpo inerte
O pavor, de repente, inunda cada um dos seus pensamentos, afogando toda a realidade num mar de [in]certezas inventadas.
Você tem plena consciência de que tudo isso é apenas fruto da sua imaginação eloquente
E, mesmo assim,
O mundo real deixa-te em cóleras...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Entre Aspas XVI

[PLANO B - TRILHA SONORA]

"As I'm standing here
And you hold my hand
Pull me towards you
And we start to dance
All around us
I see nobody
Here in silence
It's just you and me

I've been spending all my time
Just thinking about you
I don't know what to do
I think I'm fallin' for you
I've been waiting all my life
And now I found you
I don't know what to do
I think I'm fallin' for you
I'm fallin' for you"

domingo, 18 de julho de 2010

Do infinito


Queria carregar o infinito nas mãos
Procurou as estrelas no céu
Encontrou somente a escuridão
Deixou-se perder nos lábios de mel

De repente sentiu-se encontrada
Onde antes pareceu perdição
Viu que não há tudo sem nada
E luz não existe sem escuridão

No céu, o lunar sorriso vaga
E põe fim a toda solidão
O Sol, sem a Lua, se apaga
E a menina leva o infinito na mão





quarta-feira, 14 de julho de 2010

Da reallidade V

Às vezes eu acho que precisar de você é como precisar de ar:
Desesperador quando ausente...
Aliviante quando presente...
E vital a cada segundo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entre Aspas XV

[A ÚLTIMA MÚSICA I]
 "Acreditava que ela desejava conhecê-lo como ele realmente era e, de alguma forma, sentia que ela saberia exatamente como reagir.
 Ela não era como as outras pessoas que conhecia. Tinha certeza de que jamais soltaria de sua mão. Seus dedos pareciam ter o encaixe perfeito nos dele -  perfeitos complementos entrelaçados sem esforço algum."

[A ÚLTIMA MÚSICA II]
 "-Qual foi o seu desejo? -  ela sussurrou.
 Mas ele não respondeu. Em vez disso, levantou a mão dela e , com o outro braço enlaçou-a. Olhou para ela de forma intensa, com a certeza de que estava apaixonado por ela. Trouxe-a para perto de si e beijou-a debaixo de um manto de estrelas, imaginando como tinha sorte de ter encontrado alguém como ela."

[A ÚLTIMA MÚSICA III]
 "-Como já te disse, falei a verdade. Que você é inteligente, divertida, uma ótima companhia, além de ser bonita.
 -Ah, então tá bom.
 -Não vai dizer que também me ama?
 -Não sei se me apaixonaria por alguém tão carente"

[A ÚLTIMA MÚSICA IV]
 "-Sim. Eu entendi muito bem o que você quer dizer. Mas não sei o que você quer que eu diga. Não sei o que qualquer um de nós pode dizer.
 -Que tal isso: "Não quero que acabe"?
 Os olhos dela eram verdes como o mar, mas ternos como se estivessem se desculpando
 -Eu não quero que acabe - repetiu suavemente"

[A ÚLTIMA MÚSICA V]
"No fim, devemos fazer sempre aquilo que acreditamos ser certo, mesmo que seja difícil. Sei que posso não ter te ajudado, mas nem sempre é fácil perceber qual o caminho certo a seguir. Aparentemente, mesmo quando eu dizia a mim mesma que roubar não era nada demais, sabia que estava fazendo uma coisa errada. Isso me tornva sombria por dentro - aproximou seu rosto do dele para sentir o aroma do mar e da areia em sua pele. - Não rebati às acusações porque sei que dentro de mim reconhecia que estava fazendo uma coisa errada. Há pessoas que conseguem viver com isso, desde que consigam escapar. Conseguem ver nuances de cinza onde eu vejo branco e preto. Mas não sou esse tipo de pessoa. E acho que você também não é."

[A ÚLTIMA MÚSICA VI]
 "-Se nem estava pensando em me contar, por que me fez vir pra cá? Para que eu pudesse ver você morrer?
 -Não, querida. É exatamente o contrário. Pedi para você vir para que eu pudesse ver você viver."

[A ÚLTIMA MÚSICA VI]
 "-Você se lembra da janela que fizemos juntos?
 Jonah concordou com a cabeça, seu pequeno queixo tremendo.
 -Eu a chamo de A Luz de Deus, porque me lembra o céu. Sempre que a luz brilhar pela janela que nós fizemos ou qualquer janela, você saberá que eu estarei bem ao seu lado, certo? Serei eu, eu serei a luz na janela."

[A ÚLTIMA MÚSICA VII]
 "-Foi lindo, não foi? - ela comentou.
 -Sim. Mas o que eu mais gostei foi de ter partilhado esse momento com você."

[A ÚLTIMA MÚSICA VIII]
 "-Alguma vez já te falei como acho você bonita?
 -Sim - disse fungando - Já me falou.
 -Bem, desta vez é verdade.

[A ÚLTIMA MÚSICA IX]
 "-Eu quero que saiba de uma coisa - disse segurando a mão dela com uma força surprreendente. - Não importa o quanto a sua estrela brilhe, a música não tinha nem a metade da importância que você tinha para mim como minha filha...quero que saiba disso."

[A ÚLTIMA MÚSICA X]
 "A vida, entendeu, era bem parecida com uma música.
 No começo, há mistério, e no final confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena."

[A ÚLTIMA MÚSICA XI]
 "(...) foi exatamente como seu pai havia descrito. O Sol penetrou pela janela, dividindo-se em centenas de prismas parecidos com pedras preciosas de uma luz rica e gloriosamente colorida. O piano parecia estar embaixo de uma cachoeira de brilhos e cores e, por um momento, Ronnie imaginou seu pai ali sentado, com o rosto virado para a luz. Não durou muito, mas ela apertou a mão de Jonah em uma silenciosa admiração. Apesar da enorme tristeza, ela sorriu, sabendo que Jonah estava pensando a mesma coisa.
 -Oi papai - disse baixinho. - Eu sabia que você viria."

[A ÚLTIMA MÚSICA XII]
 "Seu abraço, de alguma forma, deixou tudo melhor e pior ao mesmo tempo."

[A ÚLTIMA MÚSICA XIII]
 "Ela o abraçou, sentindo o corpo dele encaixar-se perfeitamente ao seu, sabendo que não havia nada para tornar aquele momento melhor do que estava."

domingo, 11 de julho de 2010

Entre Aspas XIV

"O tempo vai gravar a tua voz em mim, pra que eu possa te ouvir toda vez que precisar de algum motivo pra sorrir."

Do silêncio II

-Diz...
-Não.
-Diz...
-Melhor não
-Diz...Por favor!
-Desculpa.É que eu sempre falo mais do que deveria...
-Diz!
-Não...
-Por que?
-Porque eu provavelmente vou dizer o que eu penso e você vai entender errado, e então eu vou me corrigir e tentar explicar o que eu quis dizer primeiro. Você vai achar que eu quis te atacar e te ferir, quando na verdade tudo o que eu queria era te fazer sorrir, te deixar bem. Ou então eu vou dizer demais e revelar pra você tudo o que eu sinto a seu respeito e você vai se assustar e achar melhor se afastar de mim pra sempre, porque eu gosto demais de você, ou porque eu te machuco todas as vezes que resolvo abrir a boca!
-Espera! Então você acha que eu sou injusto com você?
-Não...
-Que sou burro demais ou insensível o suficiente para entender os seus sentimentos?
-Eu não disse isso...Eu só quis dizer que...
-Olha...Acho melhor eu ir embora.
-Não! Espera! Não foi isso que...

Ele vai embora sem lhe dar ouvidos

-...Foi exatamente o que eu disse...

Da inexistência

-O que você vê?
-O céu
-Sim...
-As nuvens
-É... Já teve vontade de morder uma nuvem?
-Não.
-Pra saber se é doce...
-É só água!
-É isso que você vê? 
-É.
-Eu vejo algodão doce.
-E vai me dizer que o Sol é uma grande gema de ovo?
-Claro que não.
-Menos mal
-Pêssego em calda!
-Você não existe
-O que você vê?
-No céu?
-Em mim...
-Eu vejo...Alguém que muda tudo só com um olhar.
-Um olhar?
-É. Quando você me olha desse seu jeito...
-Como?
-Deve ser só o seu jeito mesmo.Você não existe!
-É isso que você gosta em mim?
-Isso o que?
-O fato de eu não existir...
-Não. Quer dizer...É!
-Ah...
-Porque tudo que eu conheci que existia me decepcionou
-Coisas que não existem também decepcionam
-Mas elas não existem!
-Por isso...

Antes que se fechem os olhos II

Eu costumava gostar de me deitar no escuro e imaginar situações que nunca vivi
De deixar a minha mente voar por mundos que jamais conheci
E verdades que nunca seriam reais...
Era a fuga da vida de sempre, na vida de jamais.
E foi a primeira vez que JAMAIS fez todo o sentido.
Eu sonhava conversas inteiras, lugares mágicos, pessoas incríveis
Que nasceriam e jazeriam em meus pensamentos....

Antes que se fechem os olhos I

Está escuro
O cheiro no travesseiro parece exercitar a memória
Todos os sons parecem mais altos
As gotas de chuva caindo no telhado
O vento balançando a folhagen
O tique taquear do relógio
Os pensamentos tentam fugir da mente
Acabam embalando a dança das borboletas
Ditando ritmo ao pulsar
Dando lugar às lembranças
Dando asas à imaginação
E antes que se perceba, os olhos se fecham,
Dando liberdade aos sonhos...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Entre Aspas XIII

[ALADDIM I]


Olha eu vou lhe mostrar
Como é belo este mundo
Já que nunca deixaram o seu coração mandar
Eu lhe ensino a ver todo encanto e beleza
Que há na natureza num tapete a voar!
Um mundo ideal
Um privilégio ver daqui
Ninguém pra nos dizer o que fazer
Até parece um sonho

Um mundo ideal
Um mundo que eu nunca vi
E agora eu posso ver e lhe dizer
Estou num mundo novo com você

E eu num mundo novo com você!

Uma incrível visão neste vôo tão lindo
Vou planando e subindo para o imenso azul do céu
Um mundo ideal

Feito só pra você!

Nunca senti tanta emoção
Mas como é bom voar...viver no ar
Eu nunca mais vou desejar voltar!
Com tão lindas surpresas
Tanta coisa empolgante

Aqui é bom viver
tem prazer
Com você não saio mais daqui

Um mundo ideal

Um mundo ideal

Que alguém nos deu

Que alguém nos deu

Feito pra nós

Somente nós

seu e meu...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

De mudanças

E então parece que aquela casa está pequena demais, que aquela rua já não é mais tão calma como costumava ser, que suas roupas já não são boas o bastante...
Algumas das pessoas que você mais amou, parecem não ter mais a mesma graça, elas já não dizem as mesmas coisas, já não se preocupam tanto, já não te animam como antes
Você se pergunta onde elas se perderam daquilo que costumavam ser, em que ponto trocaram aquilo que você tanto amava por isso que você não entende e  se voltarão a ser quem foram
Você chega à conclusão de que tudo está em mutação todo o tempo,  que a dialética da vida faz com que as pessoas evoluam, transgridam, mudem.
E quando você desiste de procurar o que foi que fez com que todo o seu universo mudasse tanto, você percebe que talvez tudo esteja igual
O que mudou foi você...

DO LIVRO [III]

Parecia que eu poderia sorrir por décadas sem sentir os músculos enrijecerem, sem oscilar ou deixar meu sorriso titubear. A sensação foi incrível. Ele queria mesmo ser a minha Lua. Talvez ele já fosse. Eu sempre imaginei que o sorriso dele corresponderia ao meu.

Da irritabilidade

-O que está acontecendo?
-Eu só estou irritada
-Por que?
-Porque, em geral, as pessoas que mais nos amam são as que jamais amaremos.
-Nem sempre
-Eu disse "em geral"
-E por que isso te irrita tanto?
-Porque quando somos nós que amamos, em geral, somos os que jamais seremos amados
-O universo sempre arruma um jeito de equilibrar as coisas
-Eu sei.
-E...?
-E eu queria poder mudar as leis do universo
-Pra que você amasse a pessoa que mais te ama?
-Não. Para que a pessoa que eu quiser amar me amasse
-Então todas as pessoas que amam, seriam correspondidas
-Isso
-Inclusive aquela que te amasse demais?
-...
-E então você corresponderia ao amor dela, aquela pessoa que você amasse corresponderia ao seu e assim sucessivamente? Acho que resolveria um problema gerando outro igual
-Você tem razão
-E então?
-Então eu queria poder mudar as leis do universo...
-Então quem você amasse te amaria?
-Não
-Não?
-Eu não iria mais mudar isso
-E mudaria o que?
-Faria com que as pessoas que tentam acalmar a irritação dos outros, acalmassem apenas às suas próprias
-...
-E assim todas as decisões tolas seriam tomadas sem ninguém para impedir!

domingo, 4 de julho de 2010

Da vida IV

A vida não é medida pelas primaveras vividas, mas pelas flores cultivadas...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Constante...


...como bola de sabão

De conversas hipotéticas

Eles estavam no já conhecido barranco, sem se olhar nos olhos

-Você me prometeu
-O que?
-Que não iria sumir de mim...
-Eu não sumi. Foi você que não me procurou mais
-Eu tive vontade
-E por que não o fez?
-Porque eu achei que se você sentisse minha falta você me procuraria
-Eu senti
-Mas não procurou
-Eu procurei. Falei com você. Mas você estava estranha
-Eu sou estranha
-Não era
-Você acha que eu mudei?
-Acho
-Acha que pode conviver com isso?
-Não sei
-Nem eu...
-Por que você mudou?
-Eu não sei...Acho que é porque o mundo muda e nós temos que mudar com ele, ou ele nos engole e passa por nós sem que percebamos.
-Pode ser
-E começou a ser dolorido viver nesse mundo
-É...Com tanta violência, briga, impaciência, injustiça e...
-Não.
-Não? O que te incomoda então?
-O mundo ser apenas metade do que costumava ser.
-Como assim?
-Me incomoda ter de visitá-lo sozinha, incomoda o mundo ter mudado de "você e eu" para "eu".
-Ah...Esse mundo...
-Era óbvio que eu me referia ao mais importante.
-...
-Pelo menos para mim
-É o mais importante para mim também...
-É?
-Mas você nunca está nele.
-Não?
-Não. Ele também está pela metade para mim...
-Mas eu estou aqui agora.
-Você está estranha
-Então você não pode conviver com isso...
-Não é isso. É que, na verdade, nosso mundo costumava ser meu refúgio... Mas, sem você lá é como se ele não existisse...E o estranho é você não estar lá.
-Acha que não sou mais a mesma porque eu não estava lá quando você esteve?
-Eu não sei
-Eu continuo visitando nosso mundo todas as noites, você nunca está lá e...
-Espera! De noite?

Ele sorri um sorriso nervoso

-É. À noite.
-Eu costumo visitá-lo todas as tardes ou manhãs, sabe...é quando o Sol aparece.

Ela olha para ele, sorri o mesmo sorriso nervoso, coloca a mão em seu peito, sente certa dificuldade e então coloca a orelha.
Ele passa a mão em seus cabelos
A mão dela se enrosca em algo pendurado ao pescoço dele.
Isso a acalma

-Você acha que mudei...Acha que não posso mais te fazer sorrir não é?
-Você sempre me fará sorrir...

Ela se levanta. Ele olha. Ela começa a falar de costas para ele

-Meus cabelos ainda sentem a falta do seu rosto... Minha pele ainda exala o mesmo perfume doce em abstinência pela sua, minha boca ainda deseja a umidade da sua e minha língua ainda guarda o gosto da sua pele...

Ele se levanta, olhando-a em silêncio. Ela continua

-Eu continuo fazendo desenhos e escrevendo sobre nós, eu ainda faço doce todas as sextas e espero ouvir um estalar de dedos a qualquer segundo do dia. Ainda desejo que o ponteiro continue girando e que as pilhas jamais se acabem. Eu ainda te vejo no sorriso da Lua, nas gotas de chuva, na sensação do vento e no bater da única nota que tem me acompanhado...

Ele dá um passo à frente. Vê uma lágrima tocar o chão.
Ela se vira para ele. Segura a corrente em seu pescoço como se quisesse provar algo

-Você tem razão. Eu não sou mais a mesma. Tenho sido apenas metade de mim...

De Noites Brancas

Eu costumo olhar para o céu buscando o sorriso da Lua, mas é sempre Lua cheia.
E então eu me sento no precipício sozinha e observo o Sol se pondo, esperando que seja eternamente noite.
Eu quero trocar a noite pelo dia.
Mas as noites nunca têm Lua.
É sempre Lua Nova...
E eu vivo nesse pôr de Sol, nesse Sol que quer sumir e não some
Nesse Sol que fica no céu, vivendo de esperanças até que a Lua chegue
-E ela não vem-
E eu vivo nesa eterna Noite Branca
Que quer se apagar e não apaga...