quinta-feira, 24 de junho de 2010

Da invisibilidade I

 Nenhuma cabeça virava quando ela passava.
 Seus cabelos não esvoaçavam com o bater do vento
 Sua pele não era aveludada, sequer alva
 Seus olhos não tinham o colorido que se deva exaltar e ficavam escondidos por detrás das escurecidas lentes
 As roupas largas cobriam todas as curvas de seu corpo
 Era apenas mais um fim de tarde, ela caminhava e, ao atravessar a rua, invisível como sempre, um carro quase a atropelou.
 Ao desviar, tropeçou nos próprios pés desajeitados, caiu numa poça de água de chuva e quebrou os óculos.
 Ninguém pareceu ter notado
 Ela se levantou com água por toda a roupa e pelos cabelos
 Recolheu os pedaços de seus óculos
 Quando começou a andar, percebeu que, o carro que quase lhe tirara a vida, talvez lhe tivesse dado a chance de realmente viver.
 Todas as cabeças viravam quando ela passava e, ela sabia que era porque estava toda molhada e suja.
 Passou em frente a uma vitrine e viu seu reflexo.
 Ela estava linda!

Nenhum comentário:

Postar um comentário