terça-feira, 16 de novembro de 2010

Do Voo III

[Da peça]

-Para voar basta ter asas
-Esse é o problema...
-Voar?
-Ter asas. Eu não tenho asas
-É claro que tem... Só nunca aprendeu a usá-las
-E você vai me ensinar?
-Não
-Não?
-Ninguém pode lhe  ensinar a usar suas próprias asas, você é quem precisa parar de podá-las, precisa soltar as amarras nas quais as prendeu por tanto tempo. E eu só posso te ajudar a desatar os nós.
-Como?

Ele olha para o céu

-O que você vê?
-Nuvens
-De que tipo?
-Cúmulos e nimbos, eu acho.
-Eu vejo do tipo animal.
-Animal?
-É. Veja: um cachorrinho ali, e ali um coelhinho de longas orelhas felpudas.
-Coelhinho?
-É. Venha ver mais de perto.

Ele a leva pela mão.
As nuvens agora estão na altura de seus pés
Ele se abaixa acariciando uma nuvem

-E então?
-O que?
-Você fica brincando com nuvens e eu fico aqui olhando a loucura transbordar-lhe dos olhos, dos braços, das pernas...
-Das asas?
-Que asas? Você não tem asas!!!
-Claro que tenho.
-Quais?
-As da imaginação! Você precisa soltar as suas.
-Ah! Mas eu não tenho isso! E não quero mais tentar
-Quer ir embora?
-Quero...
-Vá!
-Mas...Então me ajuda a descer!!!
-Descer de onde?
-Do céu...
-Acha que estamos no céu?
-É claro que estamos no céu!

-[...]

-E ENTÃO?
-Então eu acho que já pode descer com suas próprias asas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário