domingo, 12 de setembro de 2010

Da queda

Estava entre areia e pedregulhos.
O vestido branco e os cabelos negros esvoaçavam, a água que respingava moldava a silhueta de seu corpo.
A cabeça apoiava-se nos joelhos enquanto observava o oceano abaixo de si, imaginando...

Ele se aproxima em silêncio
Ela prefere fingir que o som das ondas batendo nas pedras era mais alto que o dos passos dele
Ele toca-lhe o ombro direito
Ela fecha os olhos e deixa cair a lágrima que tentava segurar dentro das pálpebras abertas
Ele abaixa-se a seu lado e levanta sua cabeça com delicadeza
Ela lhe olha fundo nos olhos
Ele aproxima-se para beijá-la
Ela esquiva-se e corre na direção oposta
Ele não entende e corre de encontro a ela
Ela coloca em sua mão um papel molhado de água salgada
Ele começa a desdobrá-lo
Ela segura a mão dele fechando-a com força em volta do papel
Ele entende, beija-lhe a testa e anda na direção oposta ao precipício em que ela se sentara
Ela volta, devagar, deixando o vento lamber-lhe o rosto, agora completamente salgado e molhado
Ele abre o bilhete enquanto caminha

"Não conseguirei esperar que me desenhem asas,
Chegou a hora de dar um passo em frente
Nos encontraremos no pôr do Sol..."

Ela olha para trás quando ouve os passos apressados entre os pedregulhos
Ele lhe estende a mão, deixando cair uma lágrima
Ela dá um passo a frente, sem tirar os olhos dos dele, deixando o vestido branco esvoaçar feito asas de um novo anjo
Ele sente o rosto molhando-se de água salgada, do mar ou dos olhos...

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